Projeto do
Museu

A IDEIA DE CRIAR UM MUSEU nasceu da percepção de que, nas últimas décadas, estão sendo processadas grandes transformações na Espeleologia, sem que existam, no Brasil, sólidos movimentos de resgate e preservação da memória (ainda) existente. Equipamentos, técnicas e conceitos relacionados ao modo qual o homem entende a caverna estão rapidamente mudando. A invasão tecnológica que se promoveu após a incorporação de circuitos e novas baterias aos sistemas de iluminação (que abandonaram o centenário gás acetileno e se converteram aos dispositivos LED); as antigas bússolas, que estão sendo trocadas por instrumentos eletrônicos integrados, capazes de processamento imediato das topografias; ou o uso de modernos sistemas de navegação, de certo modo, transformam a atividade de exploração e, ao mesmo tempo que permitem descortinar novas fronteiras e descer mais fundo, igualmente, criam novos desafios e enterram antigas visões sobre a prática espeleológica. Aqui, portanto, apresenta-se a espinha dorsal do projeto: permitir que o visitante entenda a exploração subterrânea pelo cotejo dos equipamentos de cada época.

Paralelamente, percebe-se que uma boa parte dos antigos exploradores, pioneiros no Brasil na segunda metade do séc. XX, já partiu, muitos desses, infelizmente, com poucos registros de suas atividades, perdendo-se uma chama que é única: o pensamento que cada ser humano carrega em si.

O CONCEITO DE MUSEU VIRTUAL, nesse arcabouço, é objeto de bastante teorização, não somente no país, mas em todo o mundo (SCHWEIBENZ, W. The virtual museum: an overview of its origins, concepts, and terminology. In: The Museum Review. Chicago, v. 4, n. 1, 2019. Disponível em https://www.themuseumreview.org/. Acesso em 17 jul. 2020). Talvez, por se tratar de uma ferramenta ainda em evolução, produto do rápido incremento tecnológico do início do séc. XXI, exista uma grande discussão que remete à materialidade ligada à ideia de museu. O que não se pode contestar é que a internet e todas as ferramentas de mídia associadas à rede mundial de computadores aglutinam impensáveis possibilidades de promoção de conhecimento a pessoas que estão fisicamente impossibilitadas de conexão a acervos (públicos ou particulares), por quaisquer motivos, o que demonstra, cabalmente, o valor das iniciativas virtuais (ZAGANELI et al. Museus Virtuais: mecanismos voltados à democratização do acesso à informação e ao ensino-aprendizagem de História. Humanidades & Tecnologia em Revista. Ano XIII, v. 17- jan./dez. 2019. ISSN: 1809-1628).

Preservar passagens é uma certeza à compreensão do presente e uma luz que se guarda ao futuro. O projeto museal mantém um núcleo ativo que documenta os registros dos pioneiros espeleólogos em atividade na região Nordeste do Brasil, bem como recupera e restaura antigos equipamentos – tanto da Espeleologia, quanto aqueles da Mineração que estão relacionados à espeleo, já que essa última ciência tem muito a ver com aquela – de modo a garantir a salvaguarda do rico arcabouço que constitui o retrospecto da exploração subterrânea, não somente no país, mas também em várias partes do mundo. Nesse espírito, adveio o projeto MUSEU VIRTUAL ESPELEÓLOGO GERALDO GUSSO, especialmente como um modo de sistematizar informações e reunir documentos, equipamentos, descrições ou elementos integrantes da memória viva da Espeleologia. A iniciativa, no seu primeiro momento, hospedou on-line um dos maiores acervos de equipamentos espeleológicos do Brasil, enquanto, na sequência, inaugurou o constante suporte às exposições físicas de parcelas desse material. Trata-se, portanto, de um projeto de natureza museográfica e pedagógica, com lastro histórico-cultural e voltado à divulgação da própria Espeleologia.

A ideia do museu virtual foi fomentada, de forma embrionária, a partir do final de maio de 2015, quando a Sociedade Espeleológica Potiguar - SEP foi convidada a proferir uma palestra aos graduandos, que iniciavam o curso de Geologia da UFRN - Universidade Federal do RN, durante a programação da “XVI Semana de Geologia do Rio Grande do Norte: Geociências: Novas Fronteiras”. Naquele momento, houve a nítida percepção do quão seriam importantes antigas peças para se demonstrar a evolução da espeleo – especialmente de seus equipamentos – na virada do século. Contudo, exceto por uma velha carbureteira furada e alguns capacetes surrados, quase nada havia para mostrar aos alunos. Então, no biênio seguinte (2015-2017), houve um esforço concentrado à aquisição de antigos equipamentos, livros, fotografias e qualquer tipo de informação que pudesse ser concatenada de forma a moldar uma exposição. Foi o momento intenso da explosão inaugural, quando todo pequeno fragmento era único e importante. Em abril de 2017, a primeira versão do museu on-line foi oficialmente hospedada no website da Espeleonordeste (SBE NOTÍCIAS. Lançado o primeiro museu virtual sobre o carbureto. Campinas: SBE, n. 363, abr. 2017, p. 3. Informativo eletrônico.). No ano seguinte, em junho de 2018, a primeira exposição física foi realizada durante o IV Encontro Nordestino de Espeleologia, em Ituaçu/BA. Assim, o projeto havia se transformado em realidade. Finalmente, em dezembro de 2020 é inaugurada a segunda exposição on-line, que teve um aumento substancial, quadruplicando o acervo exposto anteriormente.

Essas linhas, de forma sintética, resumem um amplo esforço, que só foi possível graças à contribuição de várias pessoas. Houve intercâmbios com grupos espeleológicos de outras partes do mundo e colecionadores de artigos de minerários. Alfim, a ajuda de amigos e colaboradores, especialmente, gente que se dispôs a receber peças noutros países (quando da impossibilidade de envio direto ao Brasil). Tudo isso fortalece a certeza de que é necessário continuar. Todo projeto museal, por menor ou mais simples que seja, é um sonho coletivo, que vale a pena ser idealizado e realizado.

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