Geraldo Gusso
O Peninha

GERALDO LUIZ NUNES GUSSO, O PENINHA (1953-1993), foi um dos mais importantes espeleólogos brasileiros do séc. XX. Graduado em Geologia pela Universidade de São Paulo, participou ativamente do desenvolvimento da Espeleologia paulista na década de setenta (1970), momento em que houve um forte crescimento do Clube Excursionista Universitário - CEU, agremiação que aglutinava estudantes da USP interessados em atividades ligadas à escalada, espeleo ou, simplesmente, recreativas, como acampamentos ou trilhas. Peninha contou que seu ingresso no grupo se deu, praticamente, por acaso, quando, na primeira semana da graduação, ficou sabendo, enquanto estava no ônibus circular do campus, da existência de pessoas que se reuniam, todas as quartas à noite, para programar eventos e saídas ao campo. Ao ter contato, através do CEU, com outros estudantes universitários que partilhavam das mesmas afinidades, rapidamente criou laços com pessoas que, ao seu lado, tornar-se-iam figuras fundamentais à Espeleologia brasileira nos anos oitenta e noventa (1980-1990), como Clayton Ferreira Lino, Mauro Stávale, Sérgio Beck e Eleonora Trajano.

Em entrevista à jornalista Renata Falzoni, em 1992, Geraldo Gusso narrou que, no início de tudo, aos vinte anos de idade, em 1973, sua ambição na Espeleologia era nenhuma, pois nada do que viria a seguir, com as ações e descobertas promovidas no Vale no Ribeira (SP), estava em seu imaginário. Ocorre que, em janeiro de 1975, o Clube Excursionista Universitário resolveu fazer uma experiência de longa permanência subterrânea – a primeira do tipo no país – e, onze jovens, entre vinte e vinte e cinco anos, passaram mais de uma semana no interior da Caverna Santana, completamente isolados do meio externo e desprovidos de equipamentos que pudessem apontar a passagem do tempo, como relógios (LINO, C. F. Cavernas: O fascinante Brasil subterrâneo. São Paulo: Gaia, 2001. p. 40). O objetivo do grupo era entender, na prática, como as pessoas reagiriam ao completo isolamento, na total ausência de luz solar, e aproveitar o tempo desenvolvendo atividades relacionadas à exploração e ao estudo da fauna subterrânea. Ao término do ciclo, a OPERAÇÃO TATUS mostrou-se um sucesso, pois além de incontáveis dados coletados, a equipe descobriu ou uma nova rede de galerias, que ficou conhecida como a Rede Tatus, na qual está o Salão Taqueupa, um dos mais belos e decorados vãos endocársticos do mundo.

Geraldo Gusso logo começou a consolidar seu protagonismo e seus avanços foram todos noticiados nas edições do Congresso Brasileiro de Espeleologia que se seguiram. Revistas de âmbito nacional, como a Geográfica Universal, do grupo Bloch Editores, trouxeram matérias descrevendo as descobertas do CEU e Peninha passou a ser uma referência na Espeleologia brasileira. A partir dali, foram promovidas expedições a várias regiões cársticas, que incluíam desde o interior de São Paulo até os sertões de Goiás.

No início dos anos oitenta (1980), Geraldo Gusso mudou-se para o Nordeste brasileiro, onde passou a residir em Natal, Rio Grande do Norte, por motivos profissionais. Nessa época, estava trabalhando na Petrobrás. Como geólogo, foi muito importante para a contribuição da exploração do petróleo na Bacia Potiguar e à aplicação de conceitos, como o de inversão de bacia, na região de Carnaubais/RN (GOMES C. B., Geologia na USP: 50 anos. São Paulo: Edusp, 2007, pp. 251-252). Contudo, o maior legado de Peninha foi na área ambiental, pois, ao lado do também geólogo Eduardo Bagnoli, foi um dos precursores da criação da unidade de conservação do LAJEDO DE SOLEDADE, em Apodi/RN, um feito que deixou para a posteridade seu nome, como não somente um espeleólogo, mas um devoto da causa ambientalista e um forte ativista na defesa de áreas cársticas com atributos associados à Arqueologia e Paleontologia. De modo concomitante, também inaugurou a prática espeleológica na região, ao fundar, em parceria com David Maurice Hassett, Bagnoli, Cícero Cesino e outros, o CLUBE DE ESPELEOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE - CERN. Entre 1987 e 1990, Geraldo capitaneou uma série de incursões espeleológicas em terras potiguares, sendo que o primeiro mapa topográfico da Furna Feia – onde atualmente existe o Parque Nacional da Furna Feia – é de sua coautoria.

No início dos anos noventa (1990), porém, Gusso estava com a saúde fragilizada. Suas atividades vão sendo suspensas, por motivos médicos, o que marca a fase final de sua vida. Peninha, mesmo havendo contribuído à Espeleologia nacional por menos de duas décadas (1973-1993), teve uma existência intensa e marcante. Seu legado, tanto no Vale do Ribeira, como na Bacia Potiguar, demonstra uma alma vívida e ativa, complemente apaixonada pelo que fazia. Em sua última entrevista, asseverou: “Não dá para entender porque a caverna é tão bonita se ela é escura” (GUSSO, G. L. N. Operação Tatus. Entrevistadora: Renata Falzoni. São Paulo, 1992. 1 cassete sonoro (45 minutos), mono). O falecimento prematuro, em 3 de março de 1993, o impossibilitou à continuidade, mas sua obra permanece viva e, hoje, seu nome é homenageado no primeiro museu virtual da Espeleologia brasileira, como um dos maiores exploradores de cavernas do Brasil.




GEOGRÁFICA UNIVERSAL - NOV. 1975

A revista Geográfica Universal foi uma das principais publicações do Grupo Bloch (Bloch Editora, 1952-2000), um dos mais importantes grupos editorais do Brasil no séc. XX. A edição de novembro de 1975 trouxe uma matéria especial sobre a Operação Tatus, no Vale do Ribeira, em São Paulo, capitaneada naquele ano, por um grupo de estudantes da USP, como a primeira experiência de permanência subterrânea no país. São mostradas fotos produzidas por Geraldo Gusso e Clayton Lino, numa das primeiras divulgações em larga escala do trabalho do grupo que, no início década de 1980, influenciaria profundamente o desenvolvimento da Espeleologia brasileira.

Origem do material: digitalização de exemplar, 2019, Brasil.

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