Por Márcio Santana Santos
MARIA CONCEIÇÃO RAMOS DE OLIVEIRA (07/12/1960-01/03/1997) foi uma das pioneiras da Espeleologia nordestina, ao fundar, em 1994, o Grupo Sul Baiano de Espeleologia - GSBE, em Ilhéus/BA, iniciando os estudos sobre cavernas na região. Geógrafa da Universidade Estadual Santa Cruz - UESC, ainda jovem docente foi escolhida para ser a primeira diretora do recém-criado Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais - DCAA (1996-1997). Com base na sua pesquisa “As relações ambientais da Bacia do Rio Cachoeira”, elaborou o programa do Núcleo de Bacias Hidrográficas da UESC - NBH, que desde 1997 desenvolve projetos de manejo e preservação dos mananciais hídricos da região cacaueira. Dentre os objetivos do NBH, destacam-se a elaboração de projetos de pesquisa e extensão na área de manejo dos recursos naturais em bacias hidrográficas ou em áreas pontuais e diagnósticos dos problemas socioambientais da Região Geoeducacional da UESC, em seus aspectos históricos, ecológicos, políticos, culturais, econômicos, tecnológicos, institucionais e jurídicos. É considerado um dos programas mais longevos e notórios da universidade.
Os estudantes do curso de Geografia, em reconhecimento ao legado da professora, a homenagearam dando seu nome ao diretório acadêmico do curso, que passou a se chamar Diretório Acadêmico de Geografia Maria Conceição Ramos de Oliveira - DAGEO/MACRO.
Em meados dos anos 1990, a pesquisa acadêmica ganhava corpo na UESC, com a criação do Programa Institucional de Iniciação Científica - PROIIC, em 1993. Todas as áreas da pesquisa aplicada passaram a competir por financiamento de seus projetos. Com uma proposta ousada, em uma área ainda desconhecida pela quase unanimidade dos seus pares, Maria Conceição teve aprovação da coordenação do PROIIC para conceder bolsas de iniciação científica ao projeto “Levantamento Espeleológico do Sul da Bahia”. No ano seguinte, conseguiu aprovar o projeto no programa PIBIC/CNPQ, em parceria com o professor Max de Menezes (baluarte da pesquisa na UESC, que hoje empresta seu nome ao pavilhão de pós-graduação da universidade).
Antes dessa iniciativa, era praticamente inexiste o registro de dados científicos sobre a Espeleologia regional. Rara exceção foram os estudos do professor Ivo Karmmann, na década de 1980, sobre a Bacia Metassedimentar do Rio Pardo, que serviram inclusive como base para a fundamentação geomorfológica e espacialização do projeto.
A pesquisa “Levantamento Espeleológico do Sul da Bahia” tinha por objeto cadastrar e topografar as cavernas do Sul da Bahia, em especial aquelas da Bacia Metassedimentar do Rio Pardo. Entretanto, terminou por estimular estudantes, professores e pesquisadores a também desbravarem o universo espeleológico, a exemplo do professor Elvis Barbosa, que iniciou estudos sobre a relação entre a memória regional e as cavernas intitulado “O Imaginário da Grutas”, que adiante se transformou em um livro com título homônimo, coordenado pela professora Marli Geralda Teixeira e publicado pela Editus/UESC (2001). O professor Elvis também se notarizou por estudos sobre cavernas rituais, coordenando em parceria com o professor Luiz Eduardo Travassos um compêndio de estudos realizados no mundo inteiro sobre o tema intitulado “Cavernas, rituais e religião”, publicado pela Editus, em 2011. Também destacamos a figura do professor Binael Soares Santos, pioneiro nos estudos da quiropterofauna cavernícola no Nordeste e fundador emérito do Instituto Brasileiro de Estudos Subterrâneos - IBES.
Para além desses nomes, outros pesquisadores, influenciados por Conceição, iniciaram à época pesquisas na área de Bioespeleologia, Hidrologia, Climatologia, Educação Física, Ecoturismo, História e Memória Regional, etc. Desse pool de trabalhos nasce a necessidade de um grupo de estudos em Espeleologia na UESC, que viria a se tornar o GSBE.
Cadastrado na Sociedade Brasileira de Espeleologia - SBE sob o nº 065, no ano de 1995, o Grupo Sul Baiano de espeleologia - GSBE nasce como um grupo de pesquisa vinculado à UESC, abrigando em sua aba os diversos projetos de pesquisa espeleológica cadastrados na instituição. Surge inicialmente como grupo de apoio aos projetos “Levantamento Espeleológico do Sul da Bahia”, coordenado pela professora Maria Conceição de Oliveira, e “O Imaginário da Grutas”, coordenado pelo professor Elvis Barbosa. Rapidamente, ganha expressividade junto a outros pesquisadores, como o professor Ricardo Cabral, que iniciou um estudo sobre coleópteras de cavernas, e o professor Alexandre Galindo, que estudou o condicionamento físico dos praticantes da Espeleologia. Com a partida prematura da professora Maria Conceição, em março de 1997, muitos desses estudos terminaram sendo descontinuados. Mais adiante, agregaria peso ao grupo o professor Binael Soares, que assumiria a gestão do GSBE e desenvolveria estudos pioneiros sobre a quiropterofauna cavernícola nordestina.
A trajetória de Ceiça pela Espeleologia foi tão rápida quanto intensa. Discreta, não gostava de ser fotografada e evitava holofotes. Preferia ser ponte a ornamento. Aos 36 anos, estava no auge de sua carreira, mas a pressa do destino não lhe permitiu deixar um legado pessoal de estudos sobre cavernas. Entretanto, a semente que plantou perseverou e estimulou muitos outros professores e estudantes a caminhar pelo extraordinário mundo da Espeleologia.
Hoje, sob o olhar do tempo e da História, rendemos nossa admiração ao protagonismo e à paixão de Maria Conceição Ramos de Oliveira, “Ceiça”, pelas cavernas e pelo meio ambiente. Assim como o brilho tênue do acetileno, que discretamente inundava a escuridão profunda, seu legado ainda ilumina, discreta e profundamente, os que vieram depois.